Uma das mais arraigadas crenças do mundo do inglês é “Você tem que praticar o inglês para não perder.”
No vídeo de hoje, eu examino esse conhecidíssimo conselho mais de perto, para ver o que tem de verdade (ou não) nele. É a prática o maior fator da manutenção do inglês? E quem não mora nos EUA, tem que “praticar” para manter?
Afinal de contas, o que você entende por “praticar”? Não perca esse vídeo!
(Se você não consegue ver o vídeo aqui, acesse-o no YouTube)
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Até a próxima!
TRANSCRIÇÃO DO VÍDEO
Oi, pessoal! Aqui é Ana Luiza, do site Inglês Online. Hoje tem mais um vídeo para vocês. E o assunto é essa crença, esse pensamento, essa opinião que é tão repetida, esse conselho até, que é tão espalhado aí pelo mundo do inglês: tem que praticar, senão perde.
“Eu perdi o meu inglês porque eu não pratiquei”. “Eu não pratiquei, então eu perdi tudo o que eu sabia”. Vamos dar uma olhada mais de perto nisso e ver se é isso mesmo.
Tem que praticar, senão perde. Essa é uma daquelas coisas que a gente ouve, começa a repetir como se fosse verdade, e não questiona. Vai repetindo, repetindo e repetindo. E não para para pensar direito assim no que significa.
Bom, praticar é um verbo transitivo direto. Quem pratica, pratica alguma coisa. Que inglês você vai praticar? Quando você diz “eu preciso praticar”, que inglês é esse? Eu quero que você pense mesmo: que inglês é esse que você vai praticar? Que parte do inglês que você vai praticar?
Vamos dizer que é um inglês que você aprendeu na escola. Então vamos dizer que você chamou um colega de classe para praticar com você os diálogos que você viu na aula. É um diálogo entre o John e o Mike, você vai fazer o John e o seu colega vai fazer o Mike. Como é que vocês vão fazer para praticar? Vocês vão precisar de algum aparato, vocês vão usar o livro, vocês vão ler o livro ou o inglês que você vai praticar já está todo na sua cabeça?
Tipo, quando o teu colega te dizer as perguntas – vamos dizer que ele vai ser o Mike -, quando o Mike fizer as perguntas, você que é o John já sabe responder, estava tudo na sua cabeça. Eu vou assumir que esse não é o caso da maioria das pessoas que praticam o inglês conversando. Eu vou assumir que a maioria das pessoas quer chegar nesse estágio, de abrir a boca e já sair, através dessa prática.
Ok, então quando você for praticar, já que você não está nesse estágio de você abrir a boca e as coisas saírem automaticamente, ou você vai ficar puxando pela memória – “peraí, eu lembro disso aí… I watch TV… I watch TV” – ou você vai usar material de apoio, que eu acho que é o mais comum. Você vai lá usar o teu livro da sala de aula que tem o diálogo escrito e vocês vão seguir o diálogo e falar em voz alta.
Aí vocês começam, você e o seu colega, a fazer o diálogo, cada um é um personagem. E aí logo surge dúvidas de pronúncia. Vamos dizer que a professora passou esse diálogo na sala de aula umas duas vezes, talvez três. Mas não foi o suficiente para pegar tudo. Tudo bem. Alguém lembrou de trazer o CD, então vamos lá ouvir o CD para a gente tirar a limpo como é essa pronúncia aí da dúvida.
E vocês sabem que na aula que vem tem outro diálogo porque é uma lição por aula, a professora tem um programa para cumprir. Então lembrando que esse diálogo é o da aula que vocês acabaram de ter. Na semana que vem, tem um diálogo novo.
Então cada fala do diálogo tem ao sempre algumas palavras que vocês não têm certeza da pronúncia, o teu amigo também não tem certeza. Vocês estão no mesmo barco. E tem algumas palavras, em especial, vocês vão lá e verifiquem no CD, no áudio, ouvem de novo. E vocês começam a perceber que tem algumas palavras que são mais chatinhas. Por quê?
Porque a pronúncia delas não tem nada a ver com a forma como elas são escritas. A nossa referência e a sua referência é o português. A gente começa a ler as palavras em inglês e vê que às vezes a pronúncia não tem… às vezes, não! Na maioria dos casos, não tem absolutamente nada a ver.
Ok, vocês conseguem dar aí uma decorada na pronúncia da primeira fala. Você, na sua; teu colega, na dele. Aí vocês passam para o segundo par de frases. E quando vocês conseguem assim quase chegar no fim desse segundo par, vocês percebem que… fazendo tudo isso, vocês percebem que já passou um tempinho. Já passou um bom tempinho.
E aí a sensação é de que as coisas não estão andando assim tão rápido quanto vocês esperavam que andasse. E o seu colega fala: “Vamos praticar do jeito que a gente sabe mesmo, do jeito que a gente acha mesmo. Porque o importante é praticar. Foi isso que me falaram. O importante é praticar”.
Deixa eu dar um toque para você. Quando você não internalizou ainda os sons do inglês e você está tentando ler, vamos dizer, um diálogo, você vai usar… se você não tem ainda uma base da pronúncia do inglês, se você não absorveu isso ainda, você vai usar a única referência que você tem, que é o português. Então você vai ler aquelas palavras em inglês como se você estivesse lendo português.
Talvez você já tenha sacado algumas coisas da aula e tal, então algumas coisinhas ali você vai pro inglês e tal, mas se você não tem uma boa base ainda, se você ficar falando aquilo, isso ajuda a criar vícios de pronúncia, como por exemplo, WASHED, WALKED.
Gente, o ponto principal deste vídeo é isso que eu vou falar agora: mesmo que a pronúncia não fosse problema – e geralmente é -, mas mesmo que não fosse, você está querendo praticar uma coisa que não entrou ainda na sua cabeça.
Você está querendo praticar até memorizar: “de tanto praticar, eu vou gravar isso”. E aí lembre que depois tem que trocar, né? Quem fez o John, faz o Mike; e quem fez o Mike, tem que fazer o John. Porque tem as falas o outro também.
Vamos dizer que o seu inglês seja mais ou menos. Vamos dizer que o seu inglês seja ainda… vamos considerar aí que você ainda está mais ou menos no começo do aprendizado de inglês.
Seu inglês ainda é de palavras soltas, né? Você consegue formar não muitas frases ainda. As estruturas ainda não estão… você ainda não absorveu direito as estruturas. Vamos dizer que é um inglês assim ‘meio capenga’.
Quando você resolve praticar isso, qual vai ser a matéria-prima da sua prática? O inglês que está na sua cabeça. É esse inglês ‘capenga’. Como poderia ser diferente? É só isso que você tem no momento dentro da sua cabeça. Se você absorveu pronúncias erradas, é isso que você vai botar para fora.
Se você absorveu frases pela metade, se você lembra de palavras soltas, é isso que você vai botar para fora. Se você ainda está num nível em que você usa muito, por exemplo, um raciocínio… se você compara muito com português ainda, se você usa muito português de base para saber o que vai falar em inglês, se você traduz muito, é isso que você vai botar para fora. Como é que você espera que o seu inglês melhore… e veja bem, eu estou falando do inglês, eu não estou falando aqui de… “não, mas você vai perde a vergonha, você vai…”, daqui a pouquinho eu falo mais disso.
Mas, eu estou falando da qualidade do seu inglês. Como é que você espera que o seu inglês melhore, se você está colocando para fora aquele inglês ‘capenga’ que você tem dentro da sua cabeça naquele momento?
Então, aqui vai a dica: para você poder praticar um inglês bom, faça alguma coisa para o inglês bom entrar na sua cabeça desde o começo. As pessoas falam muito “ah, tem que praticar para perder a vergonha”. Mas, a sua vergonha fica bem menor quando você garante, quando você se esforça para ter um inglês bom dentro da cabeça, desde o comecinho, desde o básico.
Tem uma maneira muito, mas muito mais eficiente de fazer o inglês entrar na sua cabeça da maneira que o inglês é. Não é entrar de qualquer jeito. Mas fazer um inglês de boa qualidade entrar na sua cabeça, inclusive para quem está começando, que é criar uma rotina de listening, desde o começo.
Para quem não sabe do que eu estou falando, dá uma olhada aí, embaixo do vídeo tem um link para uma série gratuita de dicas Como Falar Inglês. Clique lá que lá eu explico melhor… é introdutória, é breve, é uma série breve, mas eu explico melhor e falo mais sobre isso.
Olha, eu vou contar uma história que ilustra bem isso que eu estou falando. Quando eu dava aula de inglês, eu arrumei um aluno que quando ele me procurou, ele falou assim: “Professora, eu quero ter aula de conversação, eu só quero fazer isso”. Ele, quando me procurou, ele falou o que ele queria fazer: “Eu quero fazer aula de conversação”.
Eu tive assim uma aula com ele. Na primeira aula, deu para perceber que ele precisava muito – mas, muito mesmo! – de listening. Ele precisava muito de input. Ele precisa muito ouvir inglês bom.
A compreensão dele já era bastante boa. Ele entendia tudo o que eu falava. Ele assistia séries em inglês com legenda, eu acho que ele assistia noticiário, mas ele fazia isso assim uma vez por semana. E por que iria ser bom para ele ouvir inglês todo dia? Porque é assim, ouvindo o inglês, que a gente entende que a nossa mente vai absorvendo sem a gente perceber. A gente vai absorvendo a língua aos poucos.
Pessoal, a capacidade da nossa mente é muito, mas muito mais gigante do que a gente imagina! A maior parte da aquisição dessa coisa enorme que é o idioma acontece sem a gente perceber, acontece ali no dia-a-dia quando a gente está ouvindo e entendendo as mensagens do que a gente está ouvindo. É assim que acontece a aquisição. De novo, dá uma olhada ali no link que eu coloquei embaixo do vídeo.
Bom, meu aluno não estava afim de fazer listening, não. Ele queria só conversar mesmo. E qual que era a matéria-prima dele? O que ele tinha? O que ele tinha disponível nele para botar para fora, para falar? Era aquele inglês todo errado que já estava aqui. Pronúncia muito errada, vocabulário bastante limitado, as estruturas gramaticais também muito limitadas. Era isso que ele tinha para botar para fora.
Ah, mas e o que eu falava como professora? O que eu falava com ele? A gente tinha duas aulinhas de uma hora cada. Eram duas horas por semana. O que eu falava com ele dava quarenta minutos, no total. Não era nem de longe suficiente para fazer alguma diferença. Quarenta minutos. Eu falando um pouco, né? Conversando com ele. Fora que ele pedia para eu corrigir os erros dele. Gente, eu não dava conta! Era muita coisa.
Quase um ano depois de a gente tendo aula, eu resolvi parar. Eu resolvi que eu não iria mais dar aula para ele. Eu tinha insistido bastante para ele começar a fazer listening. Eu tinha escolhido áudios apropriados para ele, tinha orientado e ele não queria. Não tinha jeito.
Gente, depois de um ano, o inglês dele estava a mesma coisa do que lá no começo. Ele iria tirar melhora de onde? Talvez ele tenha ficado com menos vergonha de falar inglês errado. Tudo bem. Agora, a qualidade do inglês, mesma coisa.
Não perca o seu tempo achando que os fragmentos de inglês, o inglês errado que você tem em mente, se você ficar praticando aquilo, aquilo de alguma maneira vai fazer o seu inglês melhorar. Estabelece uma rotina de listening e conforme o tempo for passando e você for absorvendo o inglês… porque não tem como evitar.
A hora em que você começa a fazer uma rotina de listening boa, você vai absorver inglês e você vai começar a perceber que vem frases na sua cabeça, que você está lembrando de coisas, vocês vai estar vendo um programa na televisão e alguém vai falar alguma coisa e você sabe como a frase vai terminar.
Ou alguém faz uma pergunta e você sabe qual é a resposta. Não tem como evitar. Então imagine você tentar praticar a conversação com essa base e imagine como é completamente diferente você tentar praticar conversação sem isso.
Gente, eu tenho uma base sólida de listening. Eu faço listening diariamente há anos. E agora eu vou falar uma coisa para você que eu não faço todo dia há anos: praticar a conversação. No último ano e meio… eu moro em Londres, para quem não sabia. Então é lógico que aqui eu falo o inglês todo dia.
Mas, eu estou aqui há um ano e meio. Eu estou falando dos últimos seis ou sete anos. De jeito nenhum que eu praticava inglês todo dia! Ou mesmo uma vez por semana. O que eu fazia todo dia era ouvir inglês.
Praticar, ou seja, conversar, serve para você exercitar os seus músculos em uma língua estrangeira. Serve para você ir perdendo a vergonha, para ir vendo que não é um bicho de sete cabeças. Serve para você ouvir o som da sua própria voz falando aquela língua estrangeira.
E aí começa a te dar um ânimo, você começa a ver que não é aquela coisa, aquele monstro, aquela coisa impossível, né? Você constata que você está falando inglês. Serve para você ir se expondo ao vivo e, de novo, constatar que as pessoas estão conseguindo te entender. Serve para você ter prática em interagir com pessoas em outras língua.
Mas, gente, passar por essa experiência sem estar ao mesmo tempo preparando a sua base de inglês, é uma coisa que pode ser um pouco dolorosa. E que leva muitas pessoas a concluírem que no fim das contas “eu sou burro para inglês”. Você já vai ter que lidar com uma certa insegurança, um certo nervosismo ali na hora de falar, entendeu?
É uma língua nova. Você não tem a mesma familiaridade com a língua do que você tem com a sua língua nativa. E além disso, você ainda quer tentar lembrar de uma coisa que você ouviu duas ou três vezes na sua vida? Pegue o seu player de MP3 agora e veja lá o que é melhor você colocar lá e manda ver.
Bom, essa é a dica de hoje. Espero que tenha ajudado e até a próxima!
Ana criou um blog de dicas de inglês em 2006, e depois de muito pesquisar o que faz alguém ganhar fluência numa segunda língua, criou seu primeiro curso de inglês em 2009.