Esse post é especialmente para a turma que trabalha com tecnologia. Não todos…! Estou falando daqueles que estão nessa área, aprendendo e se desenvolvendo como programadores e afins, e que, consequentemente, lêem quantidades consideráveis de textos em inglês na forma de manuais e outros documentos técnicos.
Para eles, aprender inglês é quase que apenas uma barreira a ser ultrapassada para que consigam atingir seu objetivo final: tornar-se um profissional de tecnologia. Usando ferramentas como dicionários e a web, eles vão decifrando aos poucos essa língua estrangeira e making sense of it, ou compreendendo o que aquilo tudo quer dizer.
Depois de algum tempo, eles conseguem ler e entender outros textos além dos técnicos. Faz sentido, já que texto técnico também usa substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, etc. Eles acabam sentindo que tem um bom domínio do inglês escrito.
Fantástico, não? O cara aprendeu inglês sozinho!
Só que… nem tanto.
A não ser que seu objetivo se resuma a isso – compreender inglês escrito – “dominar” a língua só através da leitura definitivamente não é recomendado. Por que? Vamos ver o que duas pessoas que tiveram essa experiência me contaram recentemente:
“Trabalhei durante 15 anos na área de TI, o que me obrigou a aprender inglês instrumental e técnico. Hoje a minha leitura é muito boa, consigo ler muita coisa. A minha audição é média, consigo entender cerca de 30-40% do que ouço (em velocidade média, muito rápido não entendo 10%) e minha conversação é bem fraquinha”
“Por força da minha profissão (TI) sempre li muito manual técnico em inglês. Sei mais ou menos a gramática, mas não entendo nem falo nada e tenho pouca noção de pronúncia”
Nos anos em que dei aula particular de inglês tive uns três ou quatro alunos nessa situação: o contato com inglês foi feito através de leitura técnica e quase nada mais. O que eles tem em comum? Compreensão escrita bastante razoável; capacidade de inferir significados de palavras desconhecidas com frequência; compreensão de áudio muito inferior à compreensão de leitura; e, na minha opinião, a consequência mais problemática: pronúncia bastante falha e incapacidade frequente de dizer até coisas mais básicas em inglês corretamente.
O sistema fonético do inglês é bem diferente do sistema do português…
…e isso quer dizer que, se começamos a ler palavras nessa língua sem ter noção de seus sons, vamos usar a única referência fonética que conhecemos.
Quem sabe qual é essa referência? :)
Sim, os sons do português. É o que conhecemos, é nosso sistema automático de referência para qualquer coisa escrita que apareça na nossa frente. A tendência de quem não conhece os sons do inglês é começar a aportuguesar as palavras em sua mente à medida que lê. Isso acontece automaticamente, de maneira quase imperceptível.
Experimente esquecer tudo que você sabe sobre a pronúncia dessas palavras, e leia-as em português:
WASHED
ABOVE
LEAVE
Os sons que você acabou de produzir são muito diferentes da pronúncia inglesa das mesmas, não? (Você pode ouvir washed nessa dica, above nessa e leave nessa).
E é isso que uma pessoa que não tem a referência correta dos sons ingleses vai, aos poucos, gravando em sua mente à medida que lê mais e mais textos do inglês sem o correspondente áudio.
É claro que nada é irreparável. Tudo pode mudar e a nossa capacidade de aprender e reaprender é infinita. Só que, logicamente, quanto mais a sua mente se acostumar a produzir os sons errados quando você bater o olho nas palavras em inglês, mais esforço será necessário para corrigir isso. Lá na frente, quando a pessoa começa a tentar falar, não demora muito para ela descobrir que o que diz está muito longe da pronúncia correta. Já conheci muitos profissionais de tecnologia com o chamado broken English (você até consegue identificar a mensagem do que eles dizem, mas as construções e a pronúncia são… quebradas mesmo).
Assim, o objetivo desse post é fazer o alerta para quem está na rota do “aprendizado de inglês através de manuais técnicos”: give it some thought – reflita sobre isso e aja no sentido de integrar áudio ao seu aprendizado desde o começo. Aqui neste blog você encontra dicas de como fazer isso (leia as dicas, ou use o CD do livro de inglês, por exemplo), e a Internet está cheia de ideias.
Mãos à obra? :-)
Ana criou um blog de dicas de inglês em 2006, e depois de muito pesquisar o que faz alguém ganhar fluência numa segunda língua, criou seu primeiro curso de inglês em 2009.